domingo, 29 de agosto de 2010

nu

Quando estás vestida
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas

(Assim, quando é dia,
não temos noção
 dos astros que luzem
no profundo céu.

Mas a noite é nua,
e nua na noite,
palpitam teus mundos
e os mundos da noite.

Brilham teus joelhos,
brilha o teu umbigo,
brilha toda a tua
lira abdominal.

Tes exíguos
Como na rijeza
do tronco robusto
dois frutos pequenos - brilham).



Ah, teus seios!
Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!


Se nua, teus olhos
ficam nus também:
Teu olhar, mais longe,
Mais lento, mais líquido.

Então, dentro deles,
Bóio, nado, salto
Baixo num mergulho
perpendicular.

Baixo até o mais fundo
Do teu ser, lá onde
Me sorri, tu'alma
Nua, nua, nua...

Manuel Bandeira!

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