terça-feira, 16 de agosto de 2011

Uma barba corrompe...

"Não se conhece bem um homem que nunca deixou a barba crescer. Digo isto sem preconceitos, porque não mais pertenço a confraria dos barbados. Mas estou convencido de que se conhece mal um homem que nunca deixou irromper na floresta de seu rosto, o outro, o selvagem, o agente adormecido, o hirsuto...
Há mulheres que, tendo conhecido a sabedoria erótica da barba nos lençois do dia, nunca mais se contentarão com a banalidade barbeada de outros amores...
Indizível prazer é esse de confiar na barba. Inconsciente.
Ritualisticamente. Enquanto se lê, enquanto se aguarda o outro dizer uma frase estúrdia, euquanto se toma um vinho ou se afaga um cão junto a lareira, e fechando, bem dizia Walmor Chagas outra noite num jantar quando se discutia a metafísica da barba: a barba é uma máscara como no teatro; é outro em nós, um modo de o personagem se experimentar em cena."

Trecho extraído do livro Que presente te dar de Affonso Romano de Sant'anna.

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